quinta-feira, 27 de dezembro de 2001

Ficção e Realidade...

O desejo do homem em prever o seu futuro é tão
forte e antigo, quanto os filmes de ficção que ele
produz. Ainda viva em minha memória, a cena do
personagem principal chegando a uma cidade, no
futuro, onde um vendedor inescrupuloso tentava
vender água contaminada para os viajantes. O "mocinho"
saca do bolso um analisador portátil e verifica
a contaminação do produto. Hoje, início de milênio,
sinto literalmente na boca o gosto deste futuro. Mares,
lagoas, rios e alimentos contaminados, já convivíamos
resignadamente.A água tratada pela CEDAE era o
último reduto de confiança da população nas autoridades
e nas técnicas de purificação. Lógico parece que, de onde
se capta a água para beber, a sociedade como um todo
deve exigir um santuário ecológico.Não importa o custo
da retirada das empresas poluidoras ou o tratamento dos dejetos,
estamos falando do líquido mais precioso para vida humana.
A população deve exigir transparência nas análises, pois a
contaminação é democrática, atinge ricos e pobres.Gostaria
que a sociedade percebesse que o que está acontecendo não
é um filme de ficção e efeitos especiais, é a fonte da vida que
está sendo negociada por dinheiro e interesses. Só nós podemos
alterar os prognósticos sombrios dos filmes de ficção, ou beber
veneno no mais completo silêncio.

sexta-feira, 20 de julho de 2001

Sabedoria Infantil...

As estatísticas provam que vivemos em uma cidade
dividida. Algumas pessoas ostentando muito dinheiro
e a grande maioria da população sobrevivendo em
níveis miseráveis. Economistas, intelectuais, homens
e mulheres preparados com doutorados e especializações
só aumentam o abismo social. Acredito em uma atitude
de humildade em observar as crianças. Meu filho, de
dez anos, jogava seu "gameboy" de última geração e
um menino de idade semelhante, porém de uma origem
pobre, pediu para brincar um pouco. A ponte entre
os dois mundos foi trilhada em segundos, na luta
implacável contra o inimigo comum. Olhei para os
pés do menino e um chinelo velho contrastava com a
alegria dos seus olhos brilhantes. De uma certa
distância, percebí os filhos de realidades diferentes em total
harmonia. A mãe humilde me olhou de longe agradecendo,
devolví o olhar aprendendo com nossos filhos.
Comunidades emergentes criam muros, populações carentes
nutrem o ódio e a falta de esperança. As autoridades,
como as crianças, deveriam estar construindo pontes,
conduzindo com honestidade e seriedade a distribuição
dos bens materiais. Ainda há tempo, enquanto nossas
crianças brincam...

quinta-feira, 5 de abril de 2001

Drogas...

Hoje almocei com meu filho de dez anos
em seu colégio religioso. Nas paredes
dos corredores, trabalhos dos alunos
com imagens fortes das drogas e suas
consequências terriveis de dependência
e degradação. Durante a refeição uma
conversa franca com as crianças e a
certeza da idade vulnerável, algo entre
a inocência da infância e a curiosidade
do mundo adulto. Achei tão frágil a
tentativa dos professores e educadores
de proteger os meninos, frente ao
poderio bélico, financeiro e corrupto
do mundo das drogas. Beijei meu filho
e atravessei o pátio e, no último aceno
carinhoso, entendi que sou capaz de dar
a minha vida por ele e que todos os Pais
e Mães unidos contra o crime, formam um
exército pacifico indestrutivel.
Márcio Mourão: mmvip@terra.com.br