A Missão...

Pessoa querida perdeu seu pai de forma repentina e dolorosa...
Um ímpeto carinhoso de escrever algumas palavras...

Agir as coisas agora no apartamento do seu pai vai ser triste, mas é uma mistura de sentimentos. Você estará cuidando das coisas dele e por certo verá coisas que ele guardou da sua infância. Um retrato, um carrinho, uma boneca, um trabalho que você fez e entregou no Dia dos Pais. Irá chorar, sorrir, se emocionar. Uma bandeira que empunharam juntos no Estádio, uma velha bola talvez, um cheiro de uma camisa, o barulho do seu chaveiro. Eu ainda escuto o barulho do isqueiro e da piteira jogados no cinzeiro velho de plástico preto na sala, no quarto, onde ia meu próprio pai. Tinha pavor do odor do cigarro. Mas hoje é o ritual que mais me recordo, marca registrada de um fumante sem culpa, dominado pelo vício. Arrumar a casa do seu pai agora, é arrumar a sua alma também. Desde os homens das cavernas, precisamos enterrar nossos mortos, nossos entes queridos. Verás cenas, ouvirás ruídos. Tudo fruto da sua saudade. O apartamento estará silencioso, agora tudo isto só existe dentro de você, no seu cérebro, em suas lembranças. Não tenha medo, apesar de morto, ainda é seu pai. Só te quer bem. Você sabe que a missão é sua. De mais ninguém. Viva este momento sozinho. Com coragem e amor no coração. Se sentir um nó na garganta, chore, se lembrar algo divertido, sorria. Querendo ou não, chegou a hora de crescer, amadurecer. A dor profunda, real, honesta, tem este poder. É missão solitária, mesmo que pudesse, não devo estar com você. Momento seu e de seu pai. Seu elo agora com o Infinito, com o Universo, com o Criador. O grande mistério da vida.