quinta-feira, 27 de abril de 2006

Leão da Desigualdade.

Crônica publicada no "O Globo" edição de 27/04/06.

Leão da Desigualdade:

A minha existência como brasileiro e carioca completou 49 anos. Morador de Ipanema desde os 18 anos. Hoje, após preencher os Darf´s do Imposto de Renda pagando mais impostos, saí para jantar em restaurante da Rua Visconde de Pirajá, coração do bairro símbolo do País. Meu relógio informa 21:30 hs. Meu caminho a pé não contempla as garotas de ipanema, mas mendigos, moradores de rua, maltrapilhos dormindo sob marquises, bêbados e agressivas criaturas humanas que já desistiram de tudo, até da dignidade pessoal e familiar. Sacos de lixo formando montanhas enormes por recolher e o rosto com medo das pessoas apressadas para chegarem em casa. O matraquear das armas pode iniciar a qualquer momento, e as balas ditas perdidas poderão ser achadas no seu filho, na sua mãe ou no amigo vizinho. Consigo jantar e o alimento dói no meu estômago.
O presidente do meu País informa-me pela televisão, errando na concordância verbal e nominal, que está tudo bem e que a Copa do Mundo vai começar. Governador, prefeito, autoridades revelam que nada podem fazer, afinal já herdaram de governos passados e foram eleitos apenas para perpetuarem os equívocos, roubos e falcatruas. Nascí em Botafogo e sonhava morar em Ipanema, para vivenciar o clima lúdico do balanço das ondas, da festa simples e pacífica do bom viver. Hoje, um simples jantar no coração de Ipanema, deixa triste qualquer contribuinte.